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Mostrando postagens de 2013

Remorso

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O remorso, longe de algoz, contumaz parceiro Ora às turras com o orgulho ferido, em feéricos embates Às vezes élan de atitudes anti-desconstrutivas Mola-mestra da fleuma, combustível da timidez Ainda que simbionte, não coexiste em meu gozo. Do que não fiz, me arrependo Do que vivi, me contesto, Sabendo que de tudo O que sobra é amargo O que soçobra é a essência E a vida continua...(?) 

Contrastes

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Às anáguas de renda, um elevar de sobrecenho que denuncia o absurdo do paradoxo; Ao batom que como um bêbado torneia erraticamente a fonte de seus muxoxos, a incredulidade do inesperado; Ao burburinho da sala ao lado, o explicitar de minha privacidade de biombo; Advenha seu sumo, minha ninfa; que meu êxtase dionisíaco compense sua feérica desilusão.

Tempos modernos

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Ele ao volante, a cancela abaixada à frente, os cabelos úmidos, em cretina ignorância à vocalização da quantia que grasna a seu lado no interfone. O carro não sai do lugar, a cancela não levanta, ela abre a bolsa, tira a quantia e decreta: "Paga logo e vamos embora." A cancela se abre, o carro arranca, ele sorri de soslaio e pergunta a ela sem a fitar: "Foi bom prá você?" Ela joga fora o cigarro, olha para as ruas escuras e num resfolegar mau-humorado responde: "Ô..." 

Essência parnasiana

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No catre pétreo da semiconsciência, de onde advém a certeza que o etéreo habita onde o ser é pretenso, Onde o espelho não é capaz de refletir o que é real, mas apenas o tangível, Na eternidade do vislumbre insano que permite o cerrar de olhos, Há de reunir-se essência e elemento, fenecendo à míngua a matéria que os aprisiona.

Quadrado pretenso triângulo

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Breve ausência foi a dela. E envolto em lençóis e pernas femininas, o audaz adúltero estremeceu ao chiasco que lhe abateu ao súbito entreabrir da porta.  Sua cúmplice cumulou-se sob a fronha e seu cobertor de orelhas, mais aturdida que envergonhada. E o Don Juan eventual, num súbito lapso de razão distorcida, percebeu a facécia social e a desgraça pessoal que lhe acometeria. Mas qual seu espanto, ao fitar a "vítima" e perceber um silêncio constrangido que nada denotava raiva e contrariedade, mas sim uma expressão inenarrável, algo análogo ao desespero. Lá estava ela de pé, ocludindo uma figura masculina que se abaixava em seu dorso, mas se denunciava pelas fortes mãos que surpassavam-lhe o cós, apertando-a firmemente a seu corpo. O silêncio desde o início imperou e por segundos infinitos congelou aquele quarto. A porta se fechou.  Nada mais foi como antes.

Quase fim

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"Olhe em meus olhos e diga o que lhe incomoda." Aquilo era demais.  Aturdido pela presença daquela que era sua idealização de perfeição, o convite parecia deveras desafiador. Ele estaca, como que tomando forças para proferir as palavras que talvez mudassem sua vida, levanta aos poucos seu semblante e ao finalmente encará-la, profere a fatídica sentença:  "Nada, não. Deixa para lá." Ela dá de ombros e continua a escrever.  Ele imerge em seus afazeres, evanescendo de sua mente o azo atroz, não sem antes tranquilizar-se por evitar tornar real e comum uma quimera tão linda pela sua voluntária e definitiva impossibilidade. 

Sentimento

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O mundo além dos olhos é outro e escondo em meus recônditos a imagem de meu tesouro, pois ele mesmo vaga por aí. Ao breve eclipse do olhar, quando nossas janelas estão inacessíveis à realidade que insiste em espreitar, ávido pelo reconhecimento que insisto em evitar, viceja o sentimento qual pechado como augúrio, ao piscar é natimorto.  Vingue o que sinto, pois nele não me incumbo e vivo pela consequência, pois nela existo como serei lembrado.