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Mostrando postagens de abril, 2020

Epitáfio

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Tentei paredes, amigos imaginários e os monólogos internos, mas no final das contas, só as estrelas me ouviram e eu as escutei de volta.

Ao porco, a pérola (Haicai I)

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Recebeu um poema. Comeu o papel. Defecou o sentimento.

Vetor inconteste

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"Olhe por onde anda!" Talvez o aviso, proferido em tom de ameaça, com um incompreensível resfolego por parte do emissor, tenha ocasionado menos prontidão que o gestual utilizado para evitar um eventual esbarro. Será que a necessidade de um espaço físico entre as pessoas, que garanta o distanciamento entre existências inconvenientes, justificaria tal desconforto? Porventura alguma vivência entre os protagonistas, de mim olvidada, pudesse significar a hostilidade, quem sabe? Até uma neurastenia patológica que gerasse ao portador uma indisposição para interações fortuitas, por mais involuntárias que fossem, daria sentido à misantropia fugaz. Num exercício de empatia e situando-me no contexto de uma conjuntura de pandemia, enxerguei-me não como um anteparo biológico que se interpusesse entre um cidadão e seu direito de ir e vir, mas como possível vetor de uma praga que, por distração, representasse ameaça à existência dos transeuntes. Findos estranhamento e consequen...

Amor em tempos de pandemia

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Quintana ou Victor Hugo decantariam a melancolia como a tristeza romantizada ou até uma espécie de contentamento em estar triste, mas o fato é que alguém estava sentindo algo que os clássicos vetustos talvez tivessem melhor definido que vivenciado. Já há duas semanas, o burburinho das repartições, o alarido dos comércios, a cacofonia dos sentimentos haviam cedido espaço em sua vida para um estupor inicial, que aos poucos tornava-se em tédio e agora tingia de sépia o mundo, as sensações, as vontades e os seres cada vez mais ausentes e distantes, essas imprevisíveis criaturas, as pessoas. Viver em quarentena deveria ser a antítese de morrer no habitat amplo, mas o óbito das possibilidades, a certeza do distanciamento e o inexorável do imponderável traziam à consciência um torpor que se insurgia contra a esperança, na medida de um mar que circunda um náufrago. No limbo de sua abulia, fomentava devaneios, que invariavelmente eram suplantados em urgência por dilemas relacionados à ...