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Mostrando postagens de novembro, 2023

Alienação

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Durante uma visita recebida, eu e Jair assistíamos a um telejornal, quando as imagens mostraram a chegada de tonéis de combustível para permitir o funcionamento das incubadoras da UTI neonatal de um hospital sob cerco em Gaza. O indivíduo prontamente se indignou, espumando numa profusão de perdigotos: _Desde quando as incubadoras de hospital funcionam com combustível? Isso aí é para os terroristas fazerem bombas para jogar nos soldados israelenses. Palestinos malditos! Israel tem mais é que bombardear mesmo! Respirei fundo e respondi pausadamente, de maneira didática, tirando paciência não sei de onde: _Jair, as incubadoras da UTI neonatal de lá funcionam a eletricidade, que é fornecida por geradores alimentados por combustível, sabia?  Enquanto eu explicava o óbvio ao fanático ignorante, as imagens começaram a mostrar dezenas de recém-nascidos acomodados em colchões no hospital quase em ruínas, à espera do retorno do funcionamento dos geradores, para finalmente serem reconduzidos ...

Fratricídio (Haicai 4)

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Olhou pra cima Bombas e fogo no céu O amor morreu

Indiferença

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O novelo da vida se desfia em nós Que prendem na garganta o grito da revolta Como êmbolo contido, prestes a explodir Sob a placidez aparente da repulsa contida. A indiferença perscruta sob afetos forçados Naturalizando absurdos, negando a empatia Desviando o olhar, imerso em fúteis razões  Transbordando em fel, crispando mãos atadas. O amor recusado, em ressentimento se torna E a afeição fenece, em desdém e indiferença Quando o egoísmo se impõe, galhardo e vil Impondo às gentes o jugo da não-existência. Eles sempre estiveram ali, você que não os viu E quando neles tropeçou, a cegueira se desfez em asco Quebrando pontes, no afã de cavar abismos Para evitar o desconforto de se ver no outro. O pão que falta, o teto de nuvens, o chão duro como abrigo Ou a riqueza acumulada gerando desperdício Nada disso nos define como maus ou virtuosos Pois é em tudo que deixaremos de ser que o porvir nos igualará.

Sinestesia

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Nas contradições dos meus sentidos embargados Cores vibram, em trilhas de odores táteis Num turbilhão de sensações em vórtex urdidas, Onde o claro-escuro se rende ao psicodélico. Sob o véu da insanidade se oculta a razão, Agonizando em deleite na fronteira da percepção Alucinando em cores, ouvindo sabores Num conluio mágico entre  prazer e emoção. Pelos se eriçam ao tinir do acorde de seu perfume Paisagens se sucedem ao léu do sabor de sua língua Sua tez secreta o cheiro de sua súplica Enquanto perscruto, faminto, o mel de seus recônditos. Sob o ópio dos sentidos, embalamos danças trôpegas, Em idas e vindas, trazendo volúpia e levando êxtase Percorrendo universos rumo ao éden Transcendendo o real, onde o místico viceja. Entregue ao deleite, o real capitula ao onírico  Transmutando em divino a banalidade do fastio Até que cesse a sinestesia, fruto do encanto Para então se tornar amor, muito mais do que lembrança.