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Mostrando postagens de julho, 2023

Quatro cantos

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                                 I Na dúvida imerso, em gestos e olhares Ocultos na penumbra, de luz e pensamentos Carícias, palavras, sentimentos e más intenções Decretam a capitulação da razão à volúpia.                                  II No Olimpo do desejo, a virtude é esguia Desvelando segredos tornados fetiches Sob as bênçãos de Baco, cortejando Diana Brindando o pomo de Adão ao monte de Vênus                                  III Corpos se consomem, em luxúria imolados Percutindo mãos, em portentosas carnes E unhas riscando poemas erráticos Em peles suadas, quais páginas borradas                                  IV O élan se esvai ante o advento ...

Fissuras

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Cirzo fios de mágoas nos rombos das paredes Do abstrato calabouço dos sonhos irrealizados De frios tijolos irreais, tecidos de árida nostalgia  Sem dedais que me protejam da torpe agulha das intenções natimortas E teço bordados de arame farpado  Na rude superfície de sentimentos chapiscados Emoldurando a clausura com a aridez da concretude Concedendo o zarcão à ferrugem de minhas correntes  De fio a novelo, as vivências se emaranham Em retinto atro que nos tolda o arbítrio Furtando das cores a primazia das palhetas Tingindo de cinza os rubros matizes das paixões De alcova a calabouço A culpa maculou o êxtase E a utopia que virou martírio Fez do engodo, cadafalso Urdindo delírios, aplaco meu tormento Costurando paredes, quais cabais infortúnios Até que minha sina substitua o labor Pela alvissareira dádiva da inexistência.

Catarse

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O sereno da noite da metrópole fulgia em prismas nas gotículas que ungiam sua cabeça, brincando com luz do poste, bruxuleando errantes, até se unirem em filetes que desaguavam em seu rosto, misturando chuva e lágrimas, quais como rio e mar, num torvelinho de emoções impressas no rosto crispado do donatário de um coração partido. O vento da madrugada era açoite, lutando contra o gélido concreto, disputando com as intempéries a primazia da pungência sobre a carne fustigada que abrigava um espírito quebrado. O atro firmamento se escondia atrás de espessas nuvens, negando aos viventes o deleite da lua cheia sequestrada, como que conspirando por um cenário de tristeza e melancolia. O rugido dos carros, que renteavam de forma ameaçadora as pernas prostradas na via, era vez ou outra suplantado por buzinadas esparsas e ofensas disparadas por condutores alheios ao desencanto humano tornado obstáculo viário. Alheio a tudo que não fosse sofrimento, o pretenso algoz de si levantou-se, fitando o ab...