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Mostrando postagens de 2024

Paladina Alvorada

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"Você tem que viver antes que morra jovem", disse o vulto ao adolescente que vagava perdido pela planície. "Mas se eu morrer logo, não irei sofrer menos?", respondeu o infante, com uma serenidade própria daqueles que, por não terem esperança de mais nada de bom, encaram a finitude como dádiva, em vez de ameaça.  _Até que vivas, e dê a si a oportunidade de dizer que as batalhas valeram a pena, senão pelo resultado, ao menos pela virtude em lutar por uma causa, como poderá dizer que tudo terá sido em vão? _Se o idealismo é mero pretexto ao sofrimento, e se o prêmio de uma pendenga impossível de vencer é o fado da derrota, de que vale o sangue derramado por um herói vencido? _O fulgor de quem enfrenta monstros sem a garantia da vitória, mas com certeza da justeza de seu propósito, será sempre um farol a sinalizar aos perdidos a direção de seus anseios por justiça.  _Mas de que valerá para mim a morte como pretexto a muitos outros que se encherão de brios e ousarão se e...

Flora humana

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Pessoas há como plantas: Algumas, decorativas e inertes, como samambaias; Outras, traiçoeiras como plantas carnívoras; Também há as rosas, com beleza e espinhos; As trepadeiras, que escalam obstáculos, sempre buscando os píncaros de seus limites; As epífitas, que florescem em seguras reentrâncias; As urtigas, que provocam irritação quando tocadas; Ou as parasitas, que sugam a essência de seus hospedeiros. À parte como se mostram ou o que se tornam, todas foram um dia sementes, promessas de viço, beleza ou finalidade e mesmo o determinismo específico de suas naturezas não é capaz de excluir de suas existências um imponderável espontâneo, que só se compreende quando notado na complexidade de seu macrocosmo. Produtos do meio, mas também entes em busca de sua completude, no rumo da seta do tempo, tão fractais em sua existência e tão óbvios no desfecho de sua decrepitude.

Páscoa

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E lá estavam, parentes e amigos, acomodados à grande mesa da sala de estar, imersos em acaloradas conversas cruzadas numa manhã de domingo, em tempos idos que hoje só existem na memória. O alarido das crianças que brincavam no quintal se somava ao chiado da panela de pressão no fogão, enquanto os carrilhões ribombavam nos alto-falantes das torres da Matriz, dando toques de algazarra àquela reunião de almas entusiasmadas. O clímax do evento ocorreu quando o casal de anfitriões, investido do carisma que cabelos brancos e hospitalidade lhes concedia, adentrou o recinto com suas roupas de missa, sorrisos largos nos rostos vincados e uma simpatia desbragada que somente os detentores do amor incondicional, dado e recebido, são capazes de emanar. De súbito, as crianças agora corriam pela casa, com as bochechas e mãozinhas sujas de chocolate, numa perseguição caótica que só fazia sentido a quem permitia que a alegria em estado puro norteasse suas motivações de anjos tornados gente, por obra da...

Imponderância

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Que meu silêncio ribombe em significado;  Que minha inércia seja fértil à transformação;  Que persista o essencial no âmago do caos;  Que o destino certo não sucumba à calmaria e que eu tenha maturidade para não culpar os ventos quando escolher adentrar as tempestades.