Paladina Alvorada
"Você tem que viver antes que morra jovem", disse o vulto ao adolescente que vagava perdido pela planície.
"Mas se eu morrer logo, não irei sofrer menos?", respondeu o infante, com uma serenidade própria daqueles que, por não terem esperança de mais nada de bom, encaram a finitude como dádiva, em vez de ameaça.
_Até que vivas, e dê a si a oportunidade de dizer que as batalhas valeram a pena, senão pelo resultado, ao menos pela virtude em lutar por uma causa, como poderá dizer que tudo terá sido em vão?
_Se o idealismo é mero pretexto ao sofrimento, e se o prêmio de uma pendenga impossível de vencer é o fado da derrota, de que vale o sangue derramado por um herói vencido?
_O fulgor de quem enfrenta monstros sem a garantia da vitória, mas com certeza da justeza de seu propósito, será sempre um farol a sinalizar aos perdidos a direção de seus anseios por justiça.
_Mas de que valerá para mim a morte como pretexto a muitos outros que se encherão de brios e ousarão se empenhar em batalhas perdidas, com o mesmo resultado que o meu?
_Haverá sempre a esperança que uma ou outra luta por justiça seja a vitoriosa e quando isso acontecer, ninguém se lembrará do derrotado com pena, mas sim com orgulho e inspiração.
Ato contínuo, o vulto deixou uma espada no chão e disse, olhando para o leste: "Deixo a ti um presente que poderá lhe ser útil no futuro. Se decidir seguir em frente, vá rumo ao nascer do Sol.
O jovem pôs seu olhar sobre a espada reluzente prostrada ao solo, mas quando tornou a atenção ao vulto, ele havia esvanescido, sem deixar rastro.
Passado o assombro, empunhou o aço forjado com delicados entalhes e formidável fio, olhou para o oeste, onde se erguiam as formidáveis montanhas que abrigavam seu antigo lar e começou sua jornada rumo ao leste, sem saber ao certo o que lhe reservava o destino, mas certo de que a glória seria tão presente quanto pungentes os desafios que lhe aguardavam.
Comentários
Postar um comentário