Urgente!
Sobre urgência, postergações, procrastinações e afins:
Só quem tem o irresistível impulso de deixar para amanhã aquilo que deveria ter sido feito ontem pode entender a vontade que estou de postergar para algum outro dia, aquilo que me propus escrever agora nestas mal traçadas linhas virtuais.
Afinal de contas, perceba:
À parte os casos de vida ou morte, tudo o mais que mereça a alcunha de urgente obedece ao crivo das pertinências de outrem, com as devidas menções aos autoritários, mimados, impacientes, intermediários da burocracia e demais corruptelas da premência, que nos fustigam cotidianamente com suas sempre inadiáveis demandas.
Quem nunca recebeu uma ordem superior quanto a alguma tarefa "urgente", que ao nos consumir competência, preocupação, articulações pessoais e horas de trabalho, às vezes às custas do descanso e do lazer de direito, teve seu primor de resultado engavetado para a posteridade ou esquecido sobre alguma empoeirada escrivaninha por aí?
Pior:
E quando essa mesma "urgência" é de novo exigida tempos depois, sob a justificativa que o retrabalho (às vezes re-retrabalho) é necessário por conta de extravios ou falta de zelo na guarda do resultado do hercúleo e hermético esforço anterior?
Talvez a desnaturalização de nossa humanidade esteja aos poucos nos robotizando, com a escravização do indivíduo pelos processos profissionais estendidos aos espectro das relações sociais, pasteurizando nossos procederes e gerando:
Técnicos onde deveriam existir artistas;
Executores de tarefas onde deveriam existir pensadores criativos, autônomos e proativos;
Máquinas, onde deveriam existir pessoas.
O telefone tocou dias atrás, de uma alcaide de determinada repartição pública.
Era feriado e não atendi.
Espero que não tenha sido nada "urgente"...
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