Jardim do Tempo

Jardim do tempo Um tênue mormaço aquecia as costas do encimesmado ancião, enquanto este, com as mãos nuas, remexia substrato, terra e esterco nas raízes dos lírios no jardim. Um discreto olor de lavanda disputava os sentidos do velho com o zumbido das abelhas, que por sua vez, desenhavam ômegas invisíveis pelo arrabalde, numa labuta incessante e alheia à distante cacofonia do subúrbio. As memórias, companheiras fieis do idoso, sequestraram suas sinapses, transmutando emoções joviais em sentimentos difusos, quase lhe fugindo pelos olhos, pela impossibilidade de serem revividas. E por mais que o tempo futuro fosse cada vez menor frente ao passado que insistia em ser lembrado, uma persistente e intrigante sensação de incompletude lhe mantinha a tenacidade em persistir na existência. Gotas de suor se juntavam em filetes, prescrutando a larga testa, descendo aos lábios ressequidos, não sem antes misturar-se a tímidas lágrimas, precipitando ao solo, brindando as flores com sal, ág...