Senzala

Uma senzala chamada frente de trabalho

Sob um amontoado de palha e gente acordamos
E em andrajos seguimos à labuta, sem café nem pão
O sol nos fustiga tanto quanto o açoite do linguajar e das chibatas
Como que testando a tenacidade de nossa nobreza ancestral
Ninguém produz como nós, a um preço tão irrisório
Mas nosso salário é o desprezo e a negação da justiça
Nosso jantar são restos da casa grande, que sucede o almoço ausente
Somos fortes, temos mais sangue do que músculos, mas resistimos
À revelia da opressão, cantamos e dançamos, reverenciando o sagrado que há em nós
Até que o crepitar da fogueira se esvaia, assim como nossa energia
Trazendo penumbra e silêncio ao cativeiro que nos é catre, sonho e alcova
Os ciclos garantirão a nós o sofrimento, a exploração e o escárnio
Mas nunca nos tirarão a fibra de uma estirpe forjada na beleza de uma história milenar
Hoje crispamos nossas mãos sulcadas em arados e enxadas
E arrastamos correntes que prendem nossos corpos, mas não o espírito
Um dia nossas cicatrizes se estenderão à sociedade como dívida vencida
Trazendo aos que oprimiram a vergonha, e a nós, a merecida reparação.

Minha homenagem e reconhecimento à força, à beleza e ao mérito do povo preto, por cada reparação obtida pela resistência à opressão de uma sociedade cuja dívida com eles é impagável, mas sempre deverá ser cobrada.

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