Sonhos juvenis

Era janeiro de 1986, eu estava alojado no Parque Santos Dumont, em São José dos Campos, junto com outros jovens alunos e alunas do curso de Educação Física, todos belos e malditos, com um passado tenro e um futuro que urgia célere, mas que não nos amedrontava, pois éramos detentores de uma esperança pueril de que tudo daria certo para todos e a vida era para ser vivida, não compreendida.
No lapso de um pós-crepúsculo às margens do "laguinho", num raro silêncio entre risos, tilintar de copos e efusividades extravagantes próprias do entusiasmo etílico-juvenil, subitamente nos calamos, inebriados pelo som que ressoava do único luxo que dispúnhamos naquele alojamento improvisado, um nostálgico toca-fitas:
Era a música "Dreamer", do Supertramp, que mais tarde, ao traduzi-la, descobri o tanto que havia em comum com o momento que vivíamos e sobre um pouco do que ainda iríamos sentir décadas depois, ao rememorarmos o que fomos em paradoxo ao que nos transformamos.

"...Se eu pudesse ser alguém...
Você pode ser qualquer um, comemore!.
Se eu pudesse fazer alguma coisa,,,
Bem, você pode fazer tudo!
Se eu pudesse fazer qualquer coisa...
Bem, você pode fazer algo fora deste mundo?
Pegue um sonho num domingo
Pegue uma vida, pegue um feriado
Pegue uma mentira, pegue um sonhador
Sonhe, sonhe, sonhe, sonhe, sonhe ainda..."

Os sonhos ainda brotam daqui, no âmago do meu peito aberto, mas coberto de cicatrizes.
A diferença é que antigamente, meus sonhos iam voar no futuro, mas hoje insistem em brincar no passado.

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