Pessoas há como plantas: Algumas, decorativas e inertes, como samambaias; Outras, traiçoeiras como plantas carnívoras; Também há as rosas, com beleza e espinhos; As trepadeiras, que escalam obstáculos, sempre buscando os píncaros de seus limites; As epífitas, que florescem em seguras reentrâncias; As urtigas, que provocam irritação quando tocadas; Ou as parasitas, que sugam a essência de seus hospedeiros. À parte como se mostram ou o que se tornam, todas foram um dia sementes, promessas de viço, beleza ou finalidade e mesmo o determinismo específico de suas naturezas não é capaz de excluir de suas existências um imponderável espontâneo, que só se compreende quando notado na complexidade de seu macrocosmo. Produtos do meio, mas também entes em busca de sua completude, no rumo da seta do tempo, tão fractais em sua existência e tão óbvios no desfecho de sua decrepitude.
Não foi o despertador, nem a tênue claridade da tenra manhã, tampouco o arrulhar do alvorecer das aves do arrabalde que me acordaram às seis horas da manhã neste domingo. O retorno ao ânimo vivente se dera como que por uma espécie de obrigação cotidiana, uma imposição da repetição dos dias, algo próprio daquilo que é fatídico, involuntário, compulsório e premente. A rotina sucederia o torpor que se esvaía à medida em que os raios de sol invadiam o quarto pelas frestas da janela de madeira empenada: necessidades fisiológicas, asseio, desjejum, comprimidos, estupefaciência psicotrópica, prostração, diálogos internos e o embate diário entre a imposição de ressignificar a existência ante o acachapante e irresistível sentimento de desesperança e fatalismo. Uma estranha sensação de despersonalização me afligia, dando a nítida impressão de que mente e corpo não se fundiam em mim, mas eram entidades independentes, que numa simbiose estranha, possuíam arbítrio à revelia de minha vontade. Estáva...
Que madrugada de terça-feira gorda foi aquela?! Na verdade, continuava sendo, pois para os demais foliões que ainda persistiam no frenesi hedonista, os festejos de Momo só se encerrariam ao último percutir da baqueta no bumbo ou então na exaustão definitiva de seus corpos fantasiados, pintados, semidesnudos e cintilantes de glitter e suor. Não era este o meu caso. Já eram quase três da manhã e às seis eu pegaria no batente, portanto pus-me no rumo de casa, certo que uma ducha e algumas horas de sono pudessem despertar em meu íntimo a motivação de encarar um plantão que duraria doze voltas completas no relógio. Nas ruas, a fauna festiva pulava atrás dos carros de som, urrando em uníssono o bordão próprio dos estertores carnavalescos que atravessava eras, sem contudo perder seu significado de fim de festa: "é hoje só, é hoje só..." Subitamente, duas delicadas, porém vigorosas mãos me seguraram os quadris por trás, empurrando-me à frente num irresistível impulso, fazendo com que...
Comentários
Postar um comentário