Mente e coração (e) comprimidos
Mais um dia perambulando pelas ruas imaginárias das emoções anestesiadas e enquanto divago, tropeço num tarugo de entusiasmo que não deveria estar ali.
Mas que raios estaria aquele impulso anímico fazendo na segurança do meu torpor?
Seria reação à ausência das vivências que outrora preenchiam meus olhos com belezas, para depois furar minhas córneas com a estéril certeza das lacunas que se sucederiam em verdadeiros saaras de arenosas nulidades?
Ou a necessidade de se mostrar à miríade de individualidades que residem no atro infinito, tal como imã que pinçasse dos amplos espaços vazios as filigranas de essencialidades esparsas que estivessem eternamente à espera de serem notadas, para então, reconhecerem-se em si?
Quem sabe tivesse sido um par de borboletas tingidas em psicodélicos gradientes, que em singela e improvável manobra, tapassem meus ouvidos e impedissem que eu ouvisse mais uma vez que a mediocridade é a norma e que não sentir nada é mais seguro que ter as sinapses explodidas por êxtases e carinhos que fossem pontuais e incertos, até que virassem longínquas memórias...
Ainda divagando, enquanto me apoiava nas muletas imaginárias que a medicina me impusera, um lapso de lucidez me acometeu, tornando-me à tediosa racionalidade que me vendem como saúde mental:
Eu apenas havia esquecido de tomar os antidepressivos.
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