A gravação do som de sino ressoava pelo arrabalde. E desperto pelo marco sonoro, comecei a contar as badaladas eletrônicas: uma, duas... Contei seis, depois o silêncio. O zumbido em meu ouvido, companheiro constante de alguns anos, era a garantia de que estava de fato, acordado. Percebi que estava com o braço dormente. Rolei para um lado, deitando de costas, sentei-me, arrastando o corpo em direção à cabeceira, tentei mover o artelho amortecido e achei graça em constatar que só conseguia balançá-lo para lá e para cá, sem tato, sem propriocepção, sem coordenar movimentos. Pus-me em pé, o braço pendente, inerte, como se não fosse meu, mas um parasita que me sugasse o ombro. Pensei em meu corpo como fosse a vida, o braço morto como fosse a mim e percebi o quanto as analogias se prestavam ao ridículo de meu despertar. E pensei, como braço morto que era, o quanto de inútil se resumia minha existência. A parte de um todo plena de razão de existir, mas numa condição imprestável, ...