Son(h)o
A consciência irrompeu indesejada, com o consequente entreabrir dos olhos, sem distinguir o que era torpor ou penumbra.
A fome seria um bom pretexto para desafiar a prostração, mas avaliou o que teria pela frente ao decidir pôr-se em pé e agir em conformidade com sua condição de organismo vivo e pensante.
Assear-se, providenciar seu alimento, atender semelhantes em demandas incontornáveis, ainda que irrelevantes, informar-se da deterioração progressiva e cotidiana da realidade a qual estava peremptoriamente inserido, a perspectiva de adicionar aos dias, compromissos desprovidos de propósito...
Cerrou novamente os olhos, aninhou-se entre as cobertas e, na impossibilidade de não existir, devolveu sua consciência a Morfeu, na vã esperança de habitar seu reino pela eternidade.
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