Antígona
Entre trapos, o andarilho, outrora rei, se consumia em remorsos, traçando erráticas trajetórias, guiado por sua cegueira autoimposta.
A ruína preconizava o óbvio ocaso, o fim, que quanto mais distante se avistava, menos esperança concedia à margem de um pretenso alívio que nunca chegaria.
Oriunda de suas gônadas, em virtude de seus desatinos, a mão que o conduzia sem saber para onde, era seu único resquício de humanidade.
Uma história seria contada a respeito por milênios, como a maldição de reviver a derrocada de quem nasceu como presságio da dor e por um ato de heroísmo foi alçado à glória, mas por obra de seu destino de personagem trágico, vagou como cego, exilado e maltrapilho até o fim de seus dias.
O epíteto para a tragédia nominou-se Édipo, mas a candura e dedicação de Antígona, ainda que insuficientes para a redenção de seu genitor, são inspiração para espíritos atormentados sempre terem esperança que os frutos de nossas escolhas poderão um dia nos reservar algum alento.
Comentários
Postar um comentário