Alana

As nuvens corriam céleres, impelidas pelo vento da noite, encadeando figuras no negro firmamento daquela noite de lua cheia.
Recostada na cabeceira de sua cama, protegendo suas débeis espáduas com o puído travesseiro, pela janela Alana procurava no torvelinho noturno algum astro que a alegrasse, na esperança que fosse uma estrela cadente.
Num capricho atmosférico, as nuvens se abriram, deixando perpassá-las uma suave, porém intensa luz branca, quase um clarão, que invadiu o quarto, irrompendo sem nenhuma cerimônia.
_É a Lua aparecendo – cogitou Alana – Que linda luz ela trouxe!
Mas o que parecia o luar se movimentava pelo céu, ora parecendo sumir, ora, quase ofuscando os sonados olhinhos de Alana, que se enchiam de admiração e espanto.
Quando o fenômeno parecia fadado ao fim pelo cerrar da cortina de nuvens, o inesperado ocorreu: o clarão abandonou o éter adentrando o quarto e antes que o pensamento de Alana suplantasse seu assombro, foi aos poucos tomando forma...
Uma menina, talvez, por conta da esquálida e feminina anatomia, perfeitamente abrigada em um vestido azul de rendas brancas, pele alva, quase transparente, uma boca muito pequena, com um sorriso contido.
Até aí, a súbita aparição, em nada causava estranheza, mas seus cabelos eram de uma brancura extrema, movimentava-se como que por vontade própria, cobrindo e desvelando aquela face com uma expressão tão serena...
Ela flutuava, seus pezinhos minúsculos em suspensão, movendo-se sutilmente, como se dançasse no ar. Seu corpo emanava uma suave aura, tornando de multicor a branco fluorescente, sob o jugo da surpresa. Pontinhos luminosos caíam de seus cabelos quais estrelinhas, que jamais tocavam o solo, sumindo, para renascerem em cascata. Delicadas orelhinhas pontiagudas sobressaíram do oceano de seus cabelos, voltando a sumir conforme o marear dos fios. Enquanto pairava diante da cama de Alana, deixou antever no dorso um delicado par de asinhas transparentes, que quando se abriam, mostravam o esplendor de arabescos fractais que a preenchiam.
Por um instante, Alana e a fada se entreolharam e mesmo sem proferirem uma só palavra, o sorriso que concederam uma à outra disse mais que todos os alfarrábios do universo.
Um tilintar se ouviu e ao mesmo tempo que a aparição tornou ao mundo da fantasia, Alana adormeceu serenamente.
Pela mesma janela que a fada visitou Alana, o Sol a despertou daquele sono tão gostoso.
Esfregou seus olhinhos, espreguiçou-se e lembrou que naquele dia completava sete aninhos de existência.
Olhou para a cômoda e vislumbrou uma grande caixa embrulhada em papel vermelho e fitilhos verdes.
Era o primeiro presente de aniversário que ganhara em sua pobre e curta existência.
Enquanto se levantava e corria em direção ao pacote, arrastando os chinelinhos pelo chão de vermelhão, sorrindo para si e para a vida, tornou a ouvir o tilintar que precedera seu sono.
E enquanto rasgava o papel do presente, se encantou com a singela borboleta de asinhas transparentes que saía pela janela, para talvez voltar, quem sabe, no seu próximo aniversário.

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