Os amantes

Haviam aproveitado bem aquela hora de almoço.
Não fosse pelos cabelos molhados, as vestes amassadas e a fingida formalidade, ninguém suspeitaria de nada. Afinal serenava e perambular por aí era um desafio fatal à elegância.
Não fosse também pelo hotel de má reputação defronte ao escritório, talvez houvesse burburinho pela súbita chegada da dupla ao escritório. Mas quem em pleno juízo se arriscaria a amarrotar tão decadentes lençóis?
Além do mais, eles sempre traziam balas de menta e distribuíam aos colegas, sempre que voltavam juntos do almoço. Afinal, cúmplices de alcova não costumam incluir mimos a outrem em suas preocupações.
Quando passaram pelo contínuo e o escriturário, conseguiram ouvir, em passant: "sérios como esses dois, estou pra ver".
Seguiram juntos, impávidos e calados até o fim do corredor, que se bifurcava em duas salas amplas.
Antes de adentrarem cada qual seu recinto e retomarem o rumo de seus afazeres, entredentes ele a inquire:
"Amanhã, de novo?"
E ela:
"Nunca mais!"
As portas se fecharam no escritório, ao mesmo tempo em que a camareira recolhia os lençóis do quarto 212 no hotel em frente.

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