3-1= Infinito

Na distração habitual de um passeio fortuito, meu olhar distraído foi capturado pela silhueta que me singrou o rumo, furtando minha atenção.
Sabendo da iminência de minha perdição, ousei mirar os olhos que, ao arrepio da prudência, fitavam descaradamente os meus.
Por um instante, ambos ignoramos o braço que enlaçava o gracioso cós da pretérita ninfa e que a retinha cativa ao corpanzil de ogras formas de seu indesejado acompanhante.
Como fosse coreografia de um balé farsesco, nossa atenção convergiu temor e constrangimento às feições do golias ressurreto.
Pensei e temi qual seria sua reação diante de tão confesso e imperdoável acinte?
Empinando o nariz com altivez, estufei o peito numa profunda inspiração, prevendo a reação do orc ofendido.
Enquanto eu decidia pela dissimulação ou pelas desculpas, o casal veio a mim.
E antes que eu pudesse verbalizar um cumprimento, o Quasímodo, como num desajeitado passo de tango, abraçou sua Esmeralda e a impôs um torturante e roubado beijo.
No ínfimo lapso do ósculo, o gárgula feito gente fechou seus olhos e ela olhava pra mim, num misto de rejeição e desespero.
Finda a farsa, o casal se recompôs e passou por mim, ela lívida e ele solerte, fazendo questão de forçar passagem entre ombros.
Segui meu caminho e após alguns passos, olhei pra trás. Ela fazia o mesmo.
Ali descobri que seríamos para sempre um do outro.

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