Terrores Noturnos
Despertou num sobressalto, contemplando a completa escuridão do recinto.
Nada poderia ser mais assustador e pleno de desesperança que os oníricos enredos de seus recorrentes pesadelos, mas a realidade teimava em contrariar esta premissa.
A testa suada em oposição aos pés gelados, a taquicardia parceirando a ofegância, a adrenalina tornando a mente escrava de emoções reptilianas, tudo era a supremacia do sentir sobre o pensar e há muito, sobreviver era conviver com temores, à espera de torpores que cessassem a dor de persistir na existência.
Tentou apelar às memórias, buscando compensações do passado que urdissem algum contentamento que suplantasse a angústia, mas ao constatar que para cada prazer advinha uma culpa, esvanecia os excertos de vivência com esgares e meneares aflitos de sua cabeça confusa.
O buraco estava ali de novo e não era mais algo conceitual que lhe possibilitasse descrever um estado de espírito, mas a definição cabal do castigo por ter nascido e persistido em viver.
Um bolo gástrico, como êmbolo, forçava sua garganta, seus membros formigavam e o medo travestiu-se em desespero quando o aguilhão de uma dor insuportável lhe fustigou o peito, enquanto cessavam fôlego e pulsação.
A consciência se esvaía, então sentiu o aproximar de um vulto de aveludada tez e esquálidas mãos que lhe abarcavam nuca e costas, num derradeiro abraço de despedida a tudo que foi e não mais seria.
O nada se impôs e persistiu até que seus olhos novamente fossem inundados pela claridez que invadia o quarto, trespassando as vítreas superfícies das janelas.
Muito profunda, gostei muito desse texto. Escrito com a alma
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