Arbítrio

Entre passos curtos e rápidos, espalhava o saibro com os pés, com olhar fixo no horizonte, imerso em seus dilemas. Havia chegado a um ponto da existência em que o entusiasmo cedera a primazia de ânimo ao questionamento, à contemplação, à nostalgia e ao remorso. O que o movia adiante, no caminho e na vida, era uma espécie de script inexorável, sob o mote de uma obrigação autoimposta, desprovida de motivação. Aceitava serenamente as consequências da satisfação de suas vontades, dos meandros de suas escolhas, das concessões a troco de renúncias. Tergiversava internamente a respeito de um pretenso arbítrio que fosse a explicação para tudo que vivera e se tornara, mas que espécie de autodeterminação seria essa que não lhe permitia sequer cessar por si as batidas de seu coração, obrigando-o a seguir vivo? As cores vivas do campo, os sons e cheiros da natureza, nada suplantava a imersão em si propiciada pela solidão que lhe secundava. Chegou enfim ao seu destino e se propôs como missão não um...