En passant
Era início de noite de um fim de mês de agosto fustigado pelo alísio hálito de uma atmosfera taciturna, que concedia ao clima a primazia de enregelar minhas orelhas, numa conveniente distração ao acachapante sentimento de marasmo que insistia em me acompanhar todas as vezes em que eu subia a ladeira da viela do subúrbio, após outra segunda-feira de labuta. O sereno bailava errante, fazendo-se de prisma quando revelado pelo vapor de mercúrio das luminárias que ladeavam a escadaria, permitindo um lapso contemplativo enquanto eu contava mais uma vez os degraus, um por um, no rumo do refúgio que me acolheria na característica modorra do subúrbio. Encostados na parede, junto à folha dupla de flandres rebitada que fazia as vezes de porta de entrada da minha morada, lá estavam de novo os adolescentes da periferia, imberbes, belos, irresponsáveis, autoconfiantes na medida do acinte, mas que se postos sob o jugo do futuro imponderável, emanavam a fragilidade daqueles que se permitem sorrir enqu...