Lapso Insone
E lá estava eu novamente... Outra madrugada ao relento, o corpo sonado estendido na rede, mas os sentidos aguçadíssimos, ávidos pelos sutis estímulos proporcionados pela penumbra da lua minguante. O quase nada a se ouvir ao redor disputava a atenção com o rebuliço que ribombava em minha mente, tornando a experiência de estar desperto em uma agonia sensorial digna de um surto esquizofrênico. Um pássaro, talvez uma coruja, piava num compasso arrastado e repetitivo, dando a impressão de dizer, de forma zombeteira: "durma, duuurmaaa". Meus pensamentos, à revelia de minha intenção, rogavam imprecações à ave agourenta, como que sua expressão natural fosse na verdade, uma provocação a este ser insone. Diálogos internos se sucediam em imagens mentais aceleradas, evocando longínquos episódios da vida, invocando gente que nem mais existia, à revelia de minha vontade, que era apenas não enxergar mais nada enquanto os olhos estivessem fechados. "Que droga" - pensei, vocalizando...