Sobre amor e violões

Pela terceira vez, ele havia se matriculado no curso de violão da paróquia local. Não que tivesse ouvido musical ou que seus dedos curtos permitissem malabarismos nos trastos do instrumento, tampouco porque aspirava ser o centro das atenções nas rodas adolescentes dedilhando alguma música do Renato Russo. Todas estas aspirações haviam sucumbido ante a lógica do "não dou para a coisa", mas desta vez, havia uma motivação que suplantava gostos e necessidade de autoafirmação: Suzy estava matriculada na nova turma. Helton e Suzy eram vizinhos de rua, mas apesar da inevitável percepção mútua, havia um constrangimento pueril que impedia que levassem os entreolhares velados à algum tipo de interação, nem que fosse um singelo cumprimento. Nos amenos finais de tarde daquela primavera, por muitas vezes esses flertes ocorriam. Suzy, sempre indefectível com seus cabelos longos e soltos sobre suas camisetas de bandas de rock, dissimulando olhares nem sempre cândidos a Helton, sempre desvia...